quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Um sacerdote precisa de permissão para celebrar uma missa “ad orientem”?




Um sacerdote precisa de permissão para celebrar uma missa “ad orientem”?


Pergunta:
Olá, Padre. Há pouco tempo, perguntei ao meu pastor se alguma vez ele celebraria a Forma Ordinária da Missa versus Deum. Ele me respondeu que uma permissão é necessária do bispo para tal. Eu nunca tinha ouvido isto. Uma permissão é realmente necessária? Muito obrigado. 

Resposta: Não, não é necessária.
Uma permissão implica a existência de uma lei, um regulamento. Um bispo diocesano não pode estabelecer uma lei que contradiza as leis universais da Igreja. A Santa Missa pode ser celebrada na forma versus Deum ("ad orientem") ou versus populum  (virado para Deus ou virado para o povo, respectivamente) à escolha do sacerdote. De acordo com a lei, permissões não são necessárias.  Na realidade, as rubricas do Missal, lidas apropriadamente,  assumem que o padre está celebrando a missa voltado à Deus, pois indica momentos em que ele se vira ao povo. 
Aliás, a Congregação para o Culto Divino esclareceu esta questão em 2000. AQUI.
Alguns bispos têm – erroneamente – feito referência ao capítulo V da Instrução Geral do Missal Romano (Nº 299) em tentativas de erradicar ou evitar a celebração ad orientem. Em vez disso, certamente alguns subordinados dos bispos tem feito isto, uma vez que nenhum bispo seria tão tolo a ponto de ignorar as regras da Congregação para o Culto Divino. Nem seriam ignorantes a respeito da errônea tradução da IGMR 299 (originalmente em Latim) que distorce o significado do parágrafo. 
Algumas vezes você verá cartas de bispos – sem dúvidas escritas por subordinados – que parecem proibir a celebração ad orientem por diversas razões, tais como uma “unidade” quimérica (bem irônico, na verdade, dada a grande quantidade de práticas e abusos não controlados acontecendo ao redor deles). Eles podem até dizer abertamente: “Não celebre a Missa versus Deum sem minha permissão”, o que não tem o mínimo de base jurídica. Contudo, uma cuidadosa leitura destas cartas revela que elas não estabelecem nenhuma política ou legislam nada. Elas transmitem o puro desejo do bispo. Por vezes, esse desejo é demonstrado extravagantemente, mas que se resume em: “Eu não gosto disso. Eu não quero isso. Mas não posso fazer uma lei contra isso, portanto, aqui está uma carta com algumas ameaças.”
Então, padres são livres para celebrar ad orientem.
Entretanto, tendo em vista o fato de que um bispo pode crucificar um padre de mil maneiras desagradáveis, muitos não optam por celebrar dessa maneira, mesmo que eles estejam abertos ou queiram fazer isso. Seus direitos não significam tanto contra os poderes voltado contra eles.
 E esta é a triste realidade.
Por isso, em suas conversas com este padre, seja compassivo. Dependendo da sua diocese, pode ser que ele, pessoalmente, gostaria de lhe acolher, mas no fundo ele se preocupa com as consequências que isto poderia trazer.

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Para citar: Fr. John Zuhlsdorf. Um sacerdote precisa de permissão para celebrar uma Missa “ad orientem”?.  Publicado no blog: Regozija-te com a verdade aos 20 de Dezembro de 2017. Tradução de Wellington de Oliveira Veloso. Publicado originalmente no blog do Padre Z.

CARTA SOBRE A POSIÇÃO DO PADRE DURANTE A LITURGIA EUCARÍSTICA



CARTA SOBRE A POSIÇÃO DO PADRE DURANTE A LITURGIA EUCARÍSTICA

Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos

Prot. No 2036/00/L

A Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos foi perguntada se a expressão Nº 299 da Instrução Geral para o Missal Romano se trata de uma norma de acordo com a qual, durante a Liturgia Eucarística, a posição do padre versus apsidem (de frente para a abside) deve ser excluída ou evitada.

A Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, após uma madura reflexão e sob a luz de precedentes litúrgicos, responde:

NEGATIVO, e de acordo com a seguinte explicação:

A explicação incluí vários elementos que devem ser levados em consideração:

A primeira coisa que deve-se ter em mente é que a palavra expedit não expressa uma obrigação, mas uma sugestão que se refere a construção do altar separado da parede (a pariete sejunctum) e também a celebração versus populum. A cláusula ubi possibile sit (onde seja possível) refere-se a diferentes elementos, como, por exemplo: a topografia do local, a disponibilidade de espaço, o valor artístico do altar existente, a sensibilidade das pessoas que participam de determinada igreja, etc. Isso reafirma que a posição de frente para a assembleia parece mais conveniente na medida em que isto torna a comunicação mais fácil, sem excluir, entretanto, a outra possibilidade.

Contudo, qualquer que seja a posição do padre celebrante, está claro que o Sacrifício Eucarístico é oferecido ao Deus uno e trino, e que o principal, eterno e sumo sacerdote é Jesus Cristo, que atua através do ministério do sacerdote que visivelmente preside como seu instrumento. A assembleia litúrgica participa na celebração em virtude do sacerdócio comum dos fiéis que requer o ministério do sacerdote ordenado para ser exercido na Assembleia Eucarística. Deve-se distinguir a orientação física, especialmente no que diz respeito à comunicação entre os vários membros da assembleia, da orientação espiritual interior de todos. Seria um grave erro imaginar que a principal orientação do ato sacrificial é direcionado à comunidade. Se o padre celebra versus populum, que é legítimo e frequentemente conveniente, sua atitude espiritual deve ser sempre versus Deum per Jesus Christum (em direção a Deus através de Jesus Cristo), como representante de toda a Igreja. A Igreja também, que se concretiza na assembleia da qual participa, está inteiramente voltada versus Deum como seu primeiro movimento espiritual.

Parece que a tradição antiga, embora não sem exceção, era aquela em que o celebrante e a comunidade orante estavam ambos voltados versus orientem (em direção ao oriente, Leste), a direção de onde a Luz, que é Cristo, vem. Não é incomum para igrejas antigas estarem “orientadas” de maneira que o sacerdote e a assembleia estivessem voltados versus orientem durante a oração pública.

Pode ser que quando existiam problemas de espaço, ou de algum outro tipo, o altar representasse o Leste simbolicamente. Hoje a expressão versus orientem frequentemente significa versus apsidem,  e ao falar de versus populum não é 'ao oeste' que isso significa, mas sim, em direção à comunidade presente.

Na arquitetura antiga das igrejas, o lugar do bispo ou do sacerdote celebrante estava no centro do altar onde, sentado e voltado à comunidade, a proclamação das leituras era ouvida. Agora esse lugar presidencial não foi atribuído à pessoa humana do bispo ou do padre, nem aos seus dons intelectuais e nem mesmo a sua santidade pessoal, mas para seu lugar como instrumento do Pontífice invisível, que é o Senhor Jesus.

Quando é uma questão de igrejas antigas, ou de grande valor artístico, é apropriado, além disso, manter em mente as legislações civis sobre mudanças ou reformas. Adicionar outro altar pode nem sempre é a solução mais digna. 

Não há necessidade de dar importância excessiva a elementos que tenham mudado ao longo dos séculos. O que sempre permanece é o evento celebrado na liturgia: que é manifestada através de ritos, sinais, símbolos e palavras que expressam vários aspectos do mistério sem, contudo, torna-lo exaustivo, pois isto os transcende. Tomar uma posição rígida e absolutizar pode tornar-se uma rejeição de algum aspecto da verdade que merece respeito e aceitação.

Cidade do Vaticano, 25 de Setembro de 2000.
Assinado: Congregação para Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.



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Para citar: Jorge Arturo Medina, Francesco Pio Tamburrino. Carta sobre a posição do padre durante a Liturgia Eucarística.  Publicado no blog: Regozija-te com a verdade aos 20 de Dezembro de 2017. Tradução de Wellington de Oliveira Veloso. Publicado originalmente em adoremus.org


domingo, 17 de dezembro de 2017

"Eu te absolvo" - Reflexões do Cardeal Müller sobre a Confissão




“Eu te absolvo”
Reflexões do Cardeal Müller sobre a Confissão

Muitos sugerem hoje que a absolvição sacramental pode ser dada a penitentes que, devido a circunstâncias atenuantes, podem ser ditos livres de culpa subjetiva diante de Deus, mesmo que continuem vivendo em um estado objetivo de pecado grave. A distinção entre um estado objetivo do pecado e uma culpa subjetiva é geralmente reconhecida pela tradição teológica católica. O que é mais controverso é a sua aplicação à ordem sacramental. É possível usar a provável ausência de culpa subjetiva como critério para a concessão da absolvição? Isso não significaria converter os sacramentos em realidades subjetivas, que são contrárias à sua própria natureza como sinais de graça efetivos, visíveis e, portanto, objetivos?
Para responder a esta pergunta, é necessário ir às raízes do sacramento da reconciliação. Em seu amor por nós, Deus toma os seres humanos tão seriamente que entrega seu Filho unigênito à morte mais horrível e vergonhosa na Cruz (Jo 3, 16), para que nossos pecados possam ser perdoados e possamos reconciliar-nos com Ele (2 Cor 5,19). Se tal é o preço da nossa salvação, então os bispos e os sacerdotes não podem levar de forma leviana a autoridade que receberam do próprio Cristo (Mt 18, 18; Jo 20, 22) para perdoar os pecados que um penitente confessou e se arrependeu.
Porque é com a autoridade divina que o apóstolo pronuncia a palavra de reconciliação aos fiéis (2 Cor 5,20). O sacramento da reconciliação com Deus e com a Igreja como corpo de Cristo exige a confissão de todos os pecados graves em sua totalidade. Esta necessidade deriva da preocupação com a salvação eterna que, como tal, tem maior importância do que o sentido transitório de conforto de um cristão, a que o confessor possa ter medo de perturbar. Para julgar se deve perdoar ou reter os pecados de alguém (Jo 20,23) o sacerdote deve conhecer quais pecados graves o penitente cometeu. Estes são os pecados públicos e privados cometidos em seus pensamentos, palavras, ações e omissões, que violaram os mandamentos de Deus, que são a revelação de seu santo e santificador plano de amor por nós.

Leia também: A explicação do Cardeal Coccopalmerio esclarece a Amoris Laetitia?
Não basta simplesmente chamar-se pecador em geral. Isso poderia facilmente ser uma desculpa: está sujeito à fraqueza humana, como todos os outros. Os pecados seriam então relativizados como defeitos humanos omnipresentes. Na realidade, no entanto, o cristão batizado não está aprisionado na dialética de Lutero de simul iustus et peccator ("ao mesmo tempo, uma pessoa justa e pecadora"). Através do batismo, fomos verdadeiramente regenerados. Já não somos escravos do pecado, mas nos tornamos amigos e filhos de Deus. Estamos em um estado de graça santificante. Não é necessário que o pecado se separe da fraqueza restante (concupiscência). Pelo contrário, o pecado é o resultado de um ato consciente e deliberado contra a santidade de Deus e o amor de Cristo que derramou seu sangue na Cruz para o perdão dos pecados. Foi ao aceitar livremente a fé e a graça que nos convertemos em filhos de Deus. Do mesmo modo, necessitamos cooperar com a vinda do Reino a este mundo, servindo o cumprimento da vontade de Deus na terra como é no céu. Toda a vida do cristão é uma imitação contínua do Senhor crucificado e ressuscitado. Pelos pecados graves nos separamos de Deus e nos excluímos da herança da vida eterna.

O amor não torna desnecessário o cumprimento dos mandamentos de Deus

O amor não torna desnecessário o cumprimento dos mandamentos de Deus, senão que é sua forma mais profunda de realização. Os mandamentos não são receitas externas, que prometem recompensas àqueles que as cumprem e ameaçam com castigo àqueles que não as observam. Em vez disso, eles são a revelação do plano salvífico de Deus, que indica o caminho do seu amor. Todo pecado mortal é uma contradição consciente e deliberada da vontade de Deus. Este é o aspecto formal que converte um ato mau em um pecado mortal, cujo aspecto material é o conteúdo da ação. Por isso, o apóstolo Paulo pode dizer categoricamente: "Nem os imorais nem os idólatras nem os adúlteros... herdarão o reino de Deus" (1 Cor 6, 9-10).
O Concílio de Trento (1551) ensina que os pecados mortais nos tornam inimigos de Deus e nos levam à condenação eterna a menos que nos arrependamos, confessemos nossos pecados e, com as obras de reparação, obtenhamos a absolvição e a restauração do estado de graça santificante. O penitente, portanto, tem que confessar ao seu confessor todos os pecados mortais públicos e privados de que tem conhecimento após um sério exame de consciência (DH 1680). Ele ou ela também precisa indicar aquelas circunstâncias que podem mudar a natureza do pecado (DH 1681). O que é referido aqui não são as circunstâncias atenuantes que reduzem a gravidade da culpa e nos fazem merecer uma pena menor. Em vez disso, se refere àquelas circunstâncias que mudam a espécie do ato e, portanto, exigem um tipo diferente de penitência e castigo, que deve ser determinado pelo confessor que atua como juiz. É importante enfatizar que a motivação do confessor é a salvação do penitente.
Portanto, o Concílio tem toda razão ao rejeitar a polêmica protestante que vê nesse requisito de confissão de todos os pecados uma espécie de "tortura de consciência" no confessionário (DH 1682). O que acontece se o penitente não é responsável por seus pecados, por falta de conhecimento ou responsabilidade? A liberdade de uma pessoa pode ser afetada devido à ignorância. Somente Deus é capaz de julgar a culpabilidade subjetiva de uma pessoa. Tudo o que o confessor pode fazer é ajudar cuidadosamente o penitente em seu exame de consciência. Mas nem mesmo o penitente é capaz de dizer em que medida Deus o responsabiliza pelo pecado. Tratar de fazê-lo simplesmente significaria justificar-se.
Inclusive se estou consciente de não ter culpa alguma, não posso estar absolutamente seguro de minha salvação e devo sempre me confiar ao julgamento da graça de Deus. A Igreja não pode avançar ao ponto de intervir no juízo de Deus. Os apóstolos e, portanto, os bispos e sacerdotes são apenas servos de Cristo e administradores de seus sacramentos. Eles podem administrar os sacramentos como um meio de graça somente de acordo com a forma como Cristo os instituiu e de acordo com seu mandato à Igreja.

Absolver sem ter arrependimento confirma o pecador no erro

Também devemos ter em conta a possibilidade de que a ignorância seja culpável por si mesma, como quando serve de desculpa para não ter que mudar o modo de vida. Lembremo-nos do ensinamento do Concílio de Sens, segundo o qual se pode pecar mesmo que alguém aja com ignorância (DH 730). Mesmo que um confessor possa encontrar razões que falem em favor da responsabilidade diminuída de um penitente, o confessor não deve esquecer que essas mesmas razões o impedem de discernir sua situação diante de Deus da maneira correta. De toda forma, dizer "eu te absolvo" nesses casos equivaleria a confirmar o erro em que a pessoa vive, um erro que prejudica profundamente a sua capacidade de viver de acordo com o plano amoroso de Deus.
É crucial recordar que os sacramentos não são encontros privados e interiores dos fiéis com Deus, mas expressões visíveis da fé da Igreja. Esta é a razão pela qual a disciplina eclesial que governa a admissão aos sacramentos sempre exigiu que os fiéis não estejam em contradição com o modo de vida cristão. Santo Tomás diz que admitir alguém aos sacramentos que continua a viver em pecado significa introduzir "uma falsidade nos sinais sacramentais" (Suma III, q.68, a.4). Portanto, alguém poderia estar sem culpa diante de Deus por causa da ignorância invencível e ainda assim não ser capaz de receber a absolvição.
Leia também: É possível corrigir um Papa?

As palavras "eu te absolvo dos teus pecados" não ratificam a falta de responsabilidade do arrependido diante de Deus. Em vez disso, elas expressam e adquirem sua reconciliação com Deus, sua reincorporação no corpo visível de Cristo, que é a Igreja. Portanto, para que essas palavras sejam significativas, o penitente deve tomar a firme resolução de viver de acordo com o modo de vida que Cristo nos ensinou e que a Igreja dá testemunho no mundo. Fazer o contrário seria "subjetivar" a economia sacramental da Igreja, convertendo-a em uma função do nosso relacionamento invisível com Deus. Significaria descartar os sacramentos da carne visível de Cristo e seu corpo, que é a Igreja.
Há um caso de natureza completamente diferente se, por razões externas, era impossível esclarecer canonicamente o status de uma determinada união e, por exemplo, um homem tem provas de que o casamento anterior com uma mulher era inválido, embora por algum motivo ele não possa provar no foro eclesial. Este caso é completamente diferente daquele em que uma pessoa validamente casada que pede o sacramento da Penitência, sem querer abandonar uma relação sexual estável com outra pessoa, seja como um concubinato ou como um "casamento" civil, o qual não é válido diante de Deus e da Igreja. Enquanto que nesta última situação há uma contradição com a prática sacramental da Igreja (uma questão de direito divino), na primeira o debate se centra no modo de determinar se um matrimônio era nulo ou não (uma questão de lei eclesiástica).

O Cristo justo contra o Jesus misericordioso

Teologicamente, as coisas são muito claras. As palavras de Cristo, o ensinamento dos Apóstolos e, portanto, o dogma da Igreja, constituem um guia claro para qualquer esforço pastoral para apoiar o cristão individual em sua peregrinação a Deus. Foram os antigos fariseus (cujo nome hoje em dia é frequentemente usado como termo depreciativo) que tentaram colocar Jesus no mesmo lugar em relação à indissolubilidade do casamento. Por um lado, todos querem se apegar à indissolubilidade conjugal como parte do plano do Criador para o matrimônio entre um homem e uma mulher. Por outro lado, alguns procuram contornar o mandamento de Cristo. Seu pretexto é que, além do "Cristo rigoroso" como legislador da Nova Aliança, há também o "Jesus misericordioso" do Evangelho, familiarizado com o fato de que o ideal enfrenta a realidade concreta da humanidade que é interrompida pelo pecado de Adão. No entanto, Jesus responde não como fariseu, mas contra os fariseus, e mesmo contra a objeção dos apóstolos que afirmam conhecer a práxis humana e a realidade melhor que o próprio Jesus, que "aquele que se divorcia de sua mulher e se casa outra comete adultério", que também se aplica a uma mulher que se casa com um homem que não é solteiro ou viúvo (Mc 10, 11-12).

De acordo com o apóstolo Paulo, se os cônjuges se separarem, deveriam se esforçar para se reconciliar. Se a reconciliação não for possível, eles devem permanecer solteiros até a morte do companheiro legítimo (1 Cor 7, 11,39). Todos concordam que a recepção sacramental da Sagrada Comunhão só é frutífera quando se encontra em estado de graça santificante. Porém, independentemente da questão do estado subjetivo de graça de alguém (ao qual somente Deus é juiz) é necessário que aqueles que vivem em uma contradição objetiva com os mandamentos de Deus e a ordem sacramental da Igreja tomem a determinação de mudar seu modo de vida para receber a reconciliação com Deus e a Igreja no sacramento da penitência.
Leia também: Reflexões da Dra. Anna Silvas sobre a Amoris Laetitia (Parte 01)

Em muitas situações complicadas, diante de ideologias hostis ao matrimônio e em um contexto em que a transmissão da fé tem sido muitas vezes superficial, o sábio administrador da graça divina guiará gentilmente os cristãos, que buscam sinceramente uma vida de fé, para ver a situação familiar à luz do Evangelho de Cristo. Nos casos em que há motivos graves para não ser dissolvido o [segundo] vínculo e onde não seja possível obter uma declaração de nulidade do primeiro casamento, a finalidade deste caminho, muitas vezes difícil e longo, é que as pessoas vivam juntas como irmãos e irmãs e, portanto, também tenham acesso à Sagrada Comunhão.
Leia também: Reflexões da Dra. Anna Silvas sobre a Amoris Laetitia (Parte 02)

Além disso, não devemos esquecer que a fé católica não reduz o mistério da Eucaristia à recepção da Sagrada Comunhão. O que é decisivo é, antes de tudo, a participação no Sacrifício Eucarístico. A principal preocupação dos pastores da Igreja deve ser o cumprimento dos fieis de sua obrigação dominical. Deus certamente não negará seu amor àqueles que, apesar das repetidas falhas, pede humildemente sua graça, para que possam cumprir os mandamentos. Especialmente em vista de nossos próprios pecados, devemos respeitar e ajudar amorosamente, na nossa peregrinação comum, aqueles nossos irmãos e irmãs que sentem que estão em um dilema quando se trata de situações familiares e que, apesar de sua boa vontade, eles nem sempre conseguem viver de acordo com os mandamentos de Deus. É verdade que os confessores também são juízes. Mas eles desempenham esse papel não por orgulho humano, para condenar o pecador. Em vez disso, seu juízo é como o diagnóstico de um médico sábio, que procura conhecer a natureza da doença e depois derrama azeite e vinho nas feridas, assim como fez o samaritano misericordioso, devolvendo as pessoas ao refúgio da Santa Mãe Igreja. 
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 Cardeal Dom Gerhard Ludwig Muller, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
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Para citar: Muller, Cardeal Gerhard Ludwig. Eu te absolvo: Reflexões do Cardeal Müller sobre a Confissão. Publicado no blog Regozija-te com a verdade, aos 17 de dezembro de 2017. Tradução de Gabriel Luan Paixão Mota. Originalmente a matéria foi publicada em First Things.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

O noivado de José e Maria



O NOIVADO DE JOSÉ E MARIA


José apareceu aos olhos de Maria como o homem providencial que a havia de permitir viver no estado de virgindade para o qual se sentia chamada pelo Senhor. Encontrando-o compreendeu que lhe era acessível este ideal e que podia desposar-se com ele.

Hoje admiramo-nos de que tendo tomado a resolução de permanecer Virgem, Maria se tenha decidido pelos desposórios e pelo casamento. Mas no ambiente em que vivia não conhecia outro caminho. Em Israel não existia a instituição da virgindade, não havia comunidades de virgens e o ideal de uma consagração virginal a Deus não era apreciado nem praticado. Este ideal começou, quando muito, a impor-se a um outro grupo de ascetas vivendo no deserto. Pensando no seu futuro, Maria teve de persuadir-se de que a melhor proteção da sua virgindade estava no casamento, contanto que pudesse encontrar um homem que estivesse animado do mesmo ideal, persuadido da excelência da castidade virginal e decidido a respeitá-la. Além disso, a Providência que queria assegurar um lar para o Menino Jesus impelia secretamente Maria neste sentido.

Contudo, a Virgem podia perguntar se encontraria um homem que aspirasse ou consentisse numa união virginal. Não seria, porventura, necessária uma alma excepcional? Grande foi a felicidade de Maria quando descobriu em José uma alma enamorada do mesmo ideal de pureza. Ficou admirada com a elevação dos seus sentimentos.

Por isso, o noivado foi o resultado espontâneo desta comunhão no mesmo ideal e, ao mesmo tempo, de uma profunda e recíproca estima.


Maria admirou igualmente, naquelas circunstâncias, a ação da divina Providência. Não devia ela cantar, no seu silêncio íntimo, o primeiro Magnificat? Com grande entusiasmo agradeceu ao Senhor por haver colocado no seu caminho um jovem destinado a ajudá-la a realizar a sua missão. José era um dom extraordinário da bondade divina.

Este primeiro Magnificat, como o que havia de cantar alguns meses depois, era um hino de gratidão proferido em nome de todos os humildes. Era um humilde, um desconhecido que Deus acabava de oferecer à Virgem como esposo. Enquanto o sonho clássico da jovem é ser esposa de um rei, Maria entusiasmava-se com a escolha divina preferindo os que não se distinguem pela grandeza exterior e vivem na sombra. A pessoa de José tinha, aos seus olhos, tanto maior estima quanto o seu valor era todo interior, escondido numa alma humilde. A grandeza de Deus revela-se nela imensamente mais.

Quando José escolheu Maria para esposa trocando com ela a promessa, não fez senão ratificar a escolha divina. Tinha sido escolhido entre muitos para ser esposo daquela que havia de ser a Mãe de Deus. Naquele momento podia intuir o infinito amor divino encerrado naquela escolha. Começava apenas a suspeitá-lo, a ter consciência do privilégio de possuir uma esposa tão perfeita. No íntimo da alma podia também ele elevar ao Senhor um hino de agradecimento semelhante ao Magnificat da Virgem.

Os desposórios, quer para José quer para Maria, começaram com um entusiasmo todo dirigido a Deus. Se Maria foi a primeira a apreciar as qualidades de José, precedendo a Igreja na sua veneração, José foi o primeiro a agradecer a Deus o dom imenso concedido ao mundo com a beleza espiritual de Maria. Ao ver como esta beleza iluminava a sua vida, dava graças a Deus.

O período dos desposórios não fez senão confirmá-lo na sua admiração. José sentia brotar em seu coração o verdadeiro culto pela noiva tão cheia da graça divina. No seu coração começava a formar-se o culto que a Igreja há de prestar à Virgem. Era um impulso em que se misturava, juntamente com o seu amor, a admiração por uma alma onde tudo era reflexo de Deus.

Serão precisos vários séculos para que a Igreja descubra novamente aquele que foi o noivo de Maria. Quando, porém, o descobrir, José tornar-se-á padroeiro dos desposórios cristãos.


O sentimento religioso cristão apreciará a alegria concedida a Maria por ter encontrado um noivo ideal. Ela pedirá a José que proporcione semelhante alegria às jovens que sentem grandes possibilidades de amor, esperando naquele que lhes permitirá exprimi-lo.

A escolha de um companheiro ou de uma companheira para a vida é tão difícil como importante. Quem não tem diante de si tristes exemplos de uniões infelizes e desgraçadas? A escolha de um noive ou de uma noiva tem uma influência decisiva para muitas vidas humanas. É com razão que se devem dirigir a José para que a escolha feita pelos homens coincida com a escolha feita por Deus. Não é ele o intercessor ideal para conseguir e concurso daquelas circunstâncias providenciais que hão de proporcionar-se e suscitar a união de duas pessoas feitas para viverem juntas?

Para que a escolha humana possa corresponder à escolha divina, José inspira-nos a preocupação de ter mais em conta as qualidades da alma do que as qualidades físicas, inspira-nos a preocupação da beleza espiritual, o encanto mais misterioso e mais sólido conferido pela presença da graça divina. Anima a aspiração de encontrar no outro o que ele mesmo buscava e encontrava na Virgem, a perfeição que aproxima de Deus.

Depois, feita a escolha, é ainda José o guia no progresso do amor no noivado. Este amor possui um perfume especial que só na pureza se pode conservar. José, que conservou sempre esta pureza, não desejando senão a união virginal, comunica o desejo de realizar este ideal durante o noivado. Ensina a gozar a intimidade de uma alma, a evitar tudo o que pode ofuscar ou diminuir a sua beleza espiritual. Estimula a delicadeza na manifestação dos sinais de afeito e fortifica a vontade no respeito sagrado para com a pessoa que se ama. Procura colocar o Senhor no centro deste amor.

Os seus desposórios com Maria são um modelo que o noivado cristão procura imitar. De acordo com a Virgem, José é aquele que nos ensina a amar. Guia os esposos por um caminho em que o amor não cessa de elevar-se com a maior nobreza de sentimentos. Aumenta imenso o impulso de amor, fazendo-nos entrever no amor humano o dom do amor divino. Faz considerar o amor como um chamamento à santidade.

Será para sempre o noivo por excelência, aquele que atingiu o cume do amor dos desposórios, guiando todos os noivos neste mesmo sentido e ao mesmo tempo ajudá-los-á a considerar Maria como noiva ideal.

Nos desposórios, José não é só o modelo dos noivos. Como o compromisso tomado com Maria importava ao mesmo tempo uma promessa de virgindade, o seu exemplo apresenta-nos um aspecto importante da consagração virginal. Aqueles que fazem ao Senhor o voto de castidade perfeita são por ele introduzidos numa intimidade especial com Nossa Senhora. José faz realizar-lhes o privilégio desta intimidade, a felicidade de possuir na vida a companhia de uma presença feminina capaz de suscitar toda a poesia do amor, mas unicamente destinada a elevar a alma para Deus. José, ensinado pela própria experiência faz saborear-lhes toda a beleza espiritual de Maria, e aumenta neles o desejo de uma pureza absoluta para poder participar do ideal de Maria.

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Para citar: GALOT, Jean. São José. Coleção Gena Sancta. Tradução de Manuel Alves da Silva, S.J. Edições Paulistas: 1965. (Alexandria Católica) Publicado no blog Regozija-te com a verdade aos 12 de junho de 2017.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

O encontro de José com a Maria



O ENCONTRO DE JOSÉ COM MARIA


Um encontro decidiu o destino de José! Foi um dia em que o seu olhar se cruzou com o de Maria.

Aparentemente era um encontro semelhante a tantos outros quando um jovem depara com uma moça que lhe agrada para ser sua esposa. José ficou intimamente deslumbrado, ficou encantado, seduzido. Um futuro de felicidade parecia abrir-se-lhe diante.

Na realidade foi um encontro como não tinha havido outro na terra. Na frescura primaveril do seu amor nascente, era diferente de qualquer outro. José ficara impressionado com a incomparável beleza duma alma que era a pureza e a perfeição inigualáveis.

"Salve, ó cheia de graça!" havia de em breve proclamar o anjo Gabriel. Ao contemplar a beleza da Virgem, o anjo havia de reconhecer nela a efusão maravilhosa da graça divina. José não podia descobrir esta graça com o olhar espiritual de um anjo, mas pressentia-a confusamente e experimentava o seu encanto admirável. Descobriu em Maria a existência de uma alma superior, de uma impressionante perfeição.

Muitos tinham passado por ela sem pararem nem descobrirem nela nada especial. A simples beleza corporal de Maria não era tão grande que atraísse os olhares. O jardim permanecia fechado e escapava ao mundo dos sentidos. O olhar ávido de beleza exterior deslizava por aquele rosto sem poder penetrar no íntimo. Para chegar à alma da Virgem era preciso um olhar profundo, liberto dos laços sensíveis.

José deve, pois, à sua grandeza de alma o fato de encontrar e descobrir Maria.

A profundidade do olhar de José não era só uma qualidade natural, era um dom sobrenatural. De há muito o Espírito Santo tinha preparado este encontro. Não só tinha dado a José a força especial para vencer as inclinações e reivindicações do instinto, mas tinha sintonizado a sua alma com a de Maria. Certamente José estava longe de possuir a perfeição de Nossa Senhora, mas uma graça superior tinha purificado aquele esplendor escondido. E o Espírito de amor tinha formado de modo especial o seu coração para que concordasse com o coração imaculado que se lhe oferecia.
Graças a esta harmonia preestabelecida, o encontro assinalou a fusão daquelas duas almas. No decurso dos séculos aqueles que encontrarem Maria ficarão admirados com a sua beleza, mas fá-lo-ão igualmente iluminados pelo Espírito Santo que tinha esclarecido e purificado o olhar de José. Só uma alma sobrenaturalmente orientada pode descobrir Nossa Senhora.

Naquele primeiro encontro o Espírito Santo estabeleceu um futuro que José então não podia discernir. Sem dúvida pressentiu em Maria a Divindade e notou que nunca se tinha aproximado tanto de Deus. Não podia, porém, saber até que ponto era verdadeiramente atraído pelo rosto de Deus através do rosto de Maria. Não podia ter consciência, naquele momento, de tudo o que sentia e apreciava confusamente naquele encontro.

Muitos anos depois, vivendo em companhia de Maria e de Jesus, ao verificar a profunda semelhança entre eles, descobrirá que tendo sido fascinado por Maria, o tinha sido na realidade pelo próprio Jesus. Maria escondia em si a imagem de Cristo. José, ao encontrá-la, encontrara primeiro a Cristo.

Assim como o Salvador, durante a sua vida pública, há de atrair aqueles que encontrara, ou até seduzir, era ele que misteriosamente atraía José e, através do rosto puro de Maria, se apoderava da sua alma.

José experimentou deste modo o que muitos depois dele hão de experimentar seduzidos pelo encanto de Maria. Cedia assim às seduções do amor divino que ela em si escondia.

Afeiçoava-se ao rosto de Jesus que já se delineava no da mãe. Na Virgem, sem o saber, procurava e encontrava o Salvador por vir.

No momento em que José reconheceu em Maria a mulher ideal, aceitou o convite que lhe era feito. A beleza espiritual de Maria encantou-o tanto que quis guardar esta presença sagrada. Só tinha um desejo: viver na intimidade desta alma única no mundo.

Se podemos comparar este encontro com o de Adão e Eva, antes do pecado que havia de ensombrar a humanidade e aviltar os outros encontros, devemos notar que a nova Eva, diferentemente da antiga, elevou o homem para o alto. A primeira Eva empregou a sua influência sobre Adão para o fazer seguir a inclinação da sua fraqueza. Maria, desde o primeiro momento do encontro, elevou José tornando-o superior a si mesmo.

Olhando para ela, José sentiu-se melhor. Impressionado com a perfeição e santidade desta alma, despertaram-se nele aspirações mais nobres.

Em particular, compreendeu que para viver em companhia de Maria devia manter-se na maior pureza e deu-se conta que para conservar a sua missão no nível mais elevado devia estabelecer-se na limpidez virginal. Podemos considerar que o encontro com Maria levou José a tomar a resolução da virgindade. Embora tivesse sido secretamente orientado nesse sentido pela graça, foi só na presença de Maria que compreendeu toda a beleza da vida virginal, sentindo todo o seu encanto e enlevo.

Não foi só uma questão de respeito perante o desejo e a vontade de Maria. José compreendeu que não podia verdadeiramente unir a sua vida à de Maria senão associando-se à sua virgindade. Era um ideal que devia compartilhar.


Foi o primeiro a quem Maria inspirou o encanto deste ideal. Em Maria a Virgindade não era simples salva guarda de si mesma, nem austera renúncia às inclinações sensíveis, era a chama de um grande amor, de um amor que devia ser espiritual para ser um amor mais puro. Era também um amor cheio de frescura, desconhecendo as perturbações da paixão. Descobrindo esta chama no olhar de Maria, José quis também vivê-la e compreendeu com quanta delicadeza devia conservar esta limpidez virginal. Depois dele muitos outros puderam testemunhar que a influência de Maria foi decisiva para eles na consecução deste ideal elevando a sua alma para o amor mais nobre.

Assim se reconhecia, da maneira mais evidente, que o fulcro central deste encontro era Deus. Deus era o traço de união. De fato, Maria só vivia para Deus e desejava manter a sua virgindade para se unir mais a ele. Não se podia penetrar na intimidade de Maria senão entrando na intimidade divina. Com toda a sua pessoa inspirava o encanto virginal de Deus. José foi, pois, impelido por esta dupla aspiração: elevar-se para Deus seguindo o caminho da virgindade.

Depois deste encontro como lhe pareceram mais pequenas as coisas deste mundo! A alma de Maria era tão grande.

Esta descoberta iluminará a existência de José. Maria tornou-o participante da grandeza e da pureza do seu amor.


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Para citar: GALOT, Jean. São José. Coleção Gena Sancta. Tradução de Manuel Alves da Silva, S.J. Edições Paulistas: 1965. (Alexandria Católica) Publicado no blog Regozija-te com a verdade aos 07 de junho de 2017.

terça-feira, 30 de maio de 2017

Fundações Beneditinas Tradicionais



AS FUNDAÇÕES BENEDITINAS TRADICIONAIS

Nesta entrada oferecemos uma recordação das fundações beneditinas tradicionais que foram reconhecidas pela Santa Sé ou pelos ordinários do lugar.

1.      A Abadia Notre-Dame de Fontgombault

A Abadia Notre-Dame de Fontgombault foi fundada em Vale do Loire por Pedro da Estrela em 1091. Por distintas razões históricas deixou de ser um mosteiro beneditino, restabelecendo-se em 1948 o culto monástico. Desde seu restabelecimento tem preservado a tradição litúrgica gregoriana e, a partir de 1985, celebra exclusivamente de acordo com os livros litúrgicos anteriores à reforma pós-conciliar.



Esta abadia se tornou conhecida por ter acolhido entre 22 e 24 de julho de 2001 algumas Jornadas litúrgicas que contaram com a participação do então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger, mais tarde elevado à Cátedra de Pedro com o nome de Bento XVI, quem deu interessantes conferências, uma delas a de clausura. Segundo disse nessa ocasião o abade Dom Antonine Forget, as Jornadas estavam destinadas a dar início a um novo Movimento Litúrgico, o que em parte se tornou realidade com a promulgação do Motu Proprio Summorum Pontificum em 2007.

Leia também: A personalidade de José, esposo de Maria

Na atualidade é a comunidade mais numerosa da Congregação de Solesmes, com mais de setenta monges, o que tem possibilitado a fundação de novos monastérios que também usam a forma extraordinária e pertencem a essa célebre abadia:

a)      A Abadia de Notre-Dame de Randol, fundada em 1971 na região de Auvernia (França), também adotou a liturgia tradicional em 1984.



b)      A Abadia de Notre-Dame de Triors, fundada em 1984 na região de Ródano-Alpes (França), adotou em 1988 a liturgia tradicional.



c)      A Abadia de Notre-Dame de Gaussan, fundada em 1994 na região de Languedoc-Rosellón (França), adotou desde sua criação o uso dos livros litúrgicos tradicionais. Em 2007, a Abadia foi transferida para a região de Mediodia-Pirineos (França). Hoje se chama Abadia de Notre-Dame de Donezan.



d)      A Abadia de Nossa Senhora da Anunciação de Clear Creek, fundada em 1999 em Oklahoma (EUA), adotou desde sua criação o rito romano tradicional.



e)      A Abadia de São Paulo de Wisques está situada na região de Alta França, onde os monges provenientes de Fontgombault chegaram em 2013 para dar um novo impulso a comunidade estabelecida ali desde 1889. Desde então a Abadia adotou a forma extraordinária.



No total, todos estes monastérios criados desde Fontgombault somam mais de duzentos monges que seguem a regra de São Bento. Um dado interessante é que todos estes monastérios não celebram exatamente com os livros litúrgicos vigentes em 1962 (como ocorre com quem se serve do direito concedido pelo Motu Proprio Summorum Pontificum), mas com o assim denominado Ordo de 1965. Eles mesmos explicam assim sua decisão de não existir estritamente a chamada forma extraordinária:

"[...] os monges das quatro abadias fundadas por Fontgombault não celebram com o missal chamado de São Pio V utilizado pelos sacerdotes 'tradicionalistas' e cuja última edição foi aprovada por São João XXIII em 1962. Na Missa conventual os beneditinos celebram segundo o Ordo Missae de 1965. Mesmo os liturgistas têm esquecido que o Papa Paulo VI publicou um novo Ordo naquele ano (o qual foi muito bem recebido por Mons. Lefebvre). Certamente as simplificações que apresentava eram mínimas quando comparado com a Missa puramente 'tridentina', mas elas merecem ser recordadas. Assim, o Ordo de 1965 retomava a antiga proclamação das intenções a serem rezadas antes do ofertório (orações universais), suprimiu uma parte das 'orações ao pé do altar', assim como o 'último Evangelho' (prólogo de São João), e previa que aquilo que era cantado pela schola ou a assembleia não fosse repetido em privado pelo celebrante. O Pater Noster era cantado por toda a assembleia juntamente com o celebrante, prática que se fazia há vários anos já nas paróquias e que se pode encontrar hoje mesmo em certos grupos 'inconformados' com a modalidade pura da 'forma extraordinária' do rito romano. Mas acima de tudo isso, o Ordo de 1965 restaurava o ritual da concelebração que havia sido abandonado no transcurso da Idade Média."


2. A Abadia de Santa-Madalena de Barroux


Outro grande monastério beneditino que segue a forma extraordinária é a Abadia de Santa-Madalena de Barroux, situada na região de Provença-Alpes-Costa Azul (França) e que conta atualmente com cerca de sessenta monges. Foi fundado por Dom Gérard Calvet em 1978, sendo em sua origem um mosteiro associado à Fraternidade Sacerdotal São Pio X criada por Sua Excelência Reverendíssima Marcel Lefebvre. Depois das sagrações episcopais, em 25 de julho de 1988 a abadia regularizou sua situação com a Santa Sé através da recém erigida Pontifícia Comissão Eclessia Dei. Dez anos depois, em 25 de setembro de 2008, a abadia se integrou a Confederação Beneditina e a Congregação do Subiaco. Em 24 de setembro de 1995 o Cardeal Joseph Ratzinger celebrou a Missa conventual com grande presença de fiéis.



A Abadia fundou um priorado e uma abadia de monjas beneditinas. Daqui procedem os monges que deram origem aos Beneditinos da Imaculada, hoje um instituto de vida consagrada de direito diocesano independente.

a)      O Priorado de Santa Maria da Guarda foi fundado em 2002 na região de Nova Aquitania (França).



b)      A Abadia da Anunciação de Barroux é uma comunidade feminina de monjas beneditinas, fundada em 1979 nos arredores do mosteiro de Santa-Madalena, que em 1989 regularizou sua situação com a Santa Sé.




3. A Abadia de São José de Claraval


Outro mosteiro francês que segue a forma extraordinária é a Abadia de São José de Claraval. Situada na Região de Borgonha-Franco-Condado, se trata de uma abadia autônoma de direito diocesano ligada à Confederação Beneditina. Foi criada em 1972 e nunca teve vínculos formais com a Fraternidade de São Pio X, embora tenha sido S. Ex.a Rev.ma Marcel Lefebvre quem ordenou sacerdotes a vários monges. Em 2 de fevereiro de 1988 a abadia foi reconhecida oficialmente pelo bispo de Dijon.



A pedido do bispo, a Missa conventual se oficia segundo a forma ordinária do rito romano, ainda que em latim, ad orientem e sem concelebração. Isso permite que os monges possam celebrar sua missa rezada, segundo a forma extraordinária se assim o desejam, como realmente ocorre na maioria dos casos.


4. O Mosteiro de São Bento na França


Sua Excelência Reverendíssima Dominique Rey, bispo de Fréjus-Toulon (França), erigiu em dezembro de 2011 o Mosteiro de São Bento, que segue a forma extraordinária do rito romano. Suas celebrações se realizam na igreja paroquial, localizada na Comuna La Garde-Freinet, e são públicas.




5. Mosteiro de São Bento na Itália


Na Itália existe o Mosteiro de São Bento, que se encontra na Núrsia, cidade natal do Santo fundador. A comunidade está formada por jovens monges desejosos de viver a fidelidade da Regra Beneditina e o espírito monástico tradicional. O Padre Cassian, que foi o presidente do Pontifício Instituto Litúrgico, juntamente com outros jovens norte-americanos iniciou seu caminho monástico em 1998 em um apartamento alugado em Roma. No ano 2000, a petição do Arcebispo de Spoleto-Norcia, se estabeleceram na Basílica de São Beto em Núrsia, que foi gravemente afetada pelo terremoto de 2016. Já há alguns anos os monges se encontravam restaurando um antigo convento capuchinho nos arredores de Núrsia, lugar que estará destinado ao repouso e à contemplação, enquanto que o mosteiro da cidade estava reservado para atender o culto da Basílica, hoje em processo de reconstrução.




6. Os Beneditinos da Imaculada


Os Beneditinos da Imaculada são uma comunidade fundada em 2 de julho de 2008 por dois monges procedentes da Abadia de Santa-Madalena de Barroux (França), que se instalaram em Villatalla, um pequeno povo italiano situado em Liguria sobre as alturas de Impéria, muito próximo de Ventimiglia e da fronteira francesa, a pedido de S. Ex.a Rev.ma Mario Oliveri, então bispo de Albenga-Imperia. Em 21 de março de 2017, na festa do Trânsito de São Bento, S. Ex.a Rev.ma Guglielmo Borghetti, atual bispo de Albenga-Imperia, erigiu o monastério em instituto de vida consagrada de direito diocesano. A comunidade celebra conforme os livros litúrgicos vigentes em 1962.



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Fonte: Asociación Litúrgica Magníficat - Una Voce

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